Quando eu vi esse produto pela primeira vez, a minha primeira impressão foi “nossa, que legal!”
E a minha intenção para fazer esse post era falar bem, mas quando fui pesquisar... vi que a ideia tinha problemas.
HAVAIANAS ZIP TOP MARKET
Esse é um daqueles produtos (e daquelas histórias) que tem tudo para dar certo. Mas por conta de alguns detalhes... a coisa não dá tão certo assim, lá na ponta, junto ao consumidor. Na verdade, vamos descobrir que esses “detalhes” são na verdade elementos de uma estratégia que não está bem azeitada.
Então, analisando bem as coisas, resolvi trazer aqui o nosso olhar sobre a importância de uma boa estratégia para desenvolver um produto novo.
E claro, queremos lembrar você que foi exatamente para resolver esses problemas, que criamos o Programa Design to Impulse junto com a Produteca e a Observatório de Sinais.
Para um produto dar certo, precisa ter a estratégia BEM desenhada até o fim...
O CONCEITO
Com a intenção de trazer uma pegada mais street para a marca, as Havaianas desenvolveram junto à descolada marca californiana Market um novo produto do tipo 2 em 1: chinelo que vira tênis, tênis que vira chinelo. A ideia original era transformar o icônico chinelo, numa verdadeira plataforma para novos cabedais, a essência do conceito da multifuncionalidade. E no melhor das boas intenções...
Você tem uma base para acoplar outros elementos para ter vários produtos em um só. Legal né?
O QUE ESTÁ CERTO?
Marca ok. Sim, as Havaianas têm todo o potencial para emplacar um produto inovador.
Tendências ok. A fortíssima tendência dos produtos híbridos, a trend puff style + street e a enorme influência que temos hoje da moda dos anos 2000 (alguém aí lembra da calça cargo que virava bermuda?).
Colab ok. A marca parceira é super descolada e ícone do universo street. Os caras se inspiram na cultura da internet, com toques de humor e ironia. Uma galera que tem colabs com marcas power como a Puma, a Smile e com as marcas de Jimmy Hendrix e Bob Marley.
Design ok. A ideia bastante simples do zíper em torno do chinelo que permite a troca dos cabedais (a parte superior do calçado) funciona. Cores e materiais ok também (nylon “puffzado”, com o ajuste em cordão de elástico, tudo coerente com a proposta).
E O QUE NÃO ESTÁ TÃO CERTO ASSIM?
A usabilidade. Infelizmente é a primeira coisa que todo mundo reclamou (e muito!). Quando se usa a versão tênis, as tiras do chinelo por dentro simplesmente machucam o pé. Também imagino que a metade inferior do zíper, quando se usa somente o chinelo, deve doer o dedão. E fazer a troca com tudo molhado e na areia? (Uma delicia!). Faltou testar e desenvolver mais o produto para que pudesse manter a ergonomia nas duas versões.
O Design. De fato o visual não agradou muito o público fiel da marca aqui no Brasil. Na verdade, quem curtiu mesmo foi a galera gringa que já é público da Market. Ou seja, foi legal somente para um lado da parceria.
A colab. Alguém aí conhece mesmo essa marca? Pois é. É difícil alcançar valor de moda, quando é preciso ficar explicando para todo mundo quem é a outra marca da colab...
O preço. Esse talvez tenha sido o maior problema, que quase enterrou o produto. R$650,00 em média. Todo mundo fez as contas: dá pra comprar um bom tênis (um de verdade) e um bom chinelo e ainda sobra grana. Além disso, esse valor foge muito das faixas de preço da própria marca. E o tal “valor de moda” que poderia ter vindo com a colab, não veio.
MORAL DA HISTÓRIA: ESTRATÉGIA
Calçado é coisa muuuuuuuuuuuuuito complexa. Precisa fazer muito teste de usabilidade e ergonomia. Se não, já era.
A marca já vive perrengues com a qualidade. Aquelas... que “não têm cheiro e não soltam as tiras”, agora soltam em alguns meses. Então, as Havaianas não poderiam errar nesse ponto.
Produto híbrido na moda é quase uma raridade dar certo. Na verdade, são pouquíssimos os casos que essa ideia vingou. Vale pesquisar quando isso aconteceu e como foi.
O raciocínio básico do custo X benefício. Um erro muito comum das marcas é achar que as pessoas não fazem comparações e que estão dispostas a pagar o infinito apenas pela sua “marca”.
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É preciso ter uma estratégia consistente para desenvolver e lançar um produto novo.
Foi para isso que criamos o programa Design to Impulse.
Desculpa aí Havaianas, a gente continua te amando mesmo assim.